quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Livre arbítrio – falácia a serviço das igrejas.

O conceito de livre arbítrio ou a capacidade de auto determinação do indivíduo não passa de uma falácia, ou seja, de uma mentira bem administrada que presta grande serviço às igrejas, em geral. A própria bíblia não fala em momento algum da absoluta liberdade de ação do ser humano. Fala sim da culpa em ter comido o fruto proibido. Alguns autores se aproveitam dessas passagens que citam arroubos, impulsividade ou ignorância de alguns personagens bíblicos para dizer que cometeram tais erros por vontade própria.  
Quando o ser humano faz alguma coisa boa, então ele seguiu os desígnios da divindade e não fez mais que sua obrigação em cumprir o que a religião manda. Entretanto, quando algo dá errado, não foi o deus, loteado, empacotado e vendido por padres e pastores que permitiu que acontecesse algo errado. Não! Nos momentos ruins, o Homem é o culpado pois, supostamente, teria a capacidade de INTERVIR e fazer todas as coisas darem certo ou errado, devido às suas próprias ações.  
Seguindo a mesma linha de raciocínio de várias outros questionamentos, a bíblia é usada como uma balança que pode ser controlada e usada para provar o sim e o não a qualquer questionamento.
Ora, a história prova o tempo todo que não é assim. Caso fosse, as grandes tragédias, atentados, acidentes ambientais (tão na moda!) e outras situações poderiam ser totalmente previstas e evitadas. Mas o que se vê é que nenhum ser humano é capaz de se prevenir, de agir de modo livre, espontâneo e seguro de modo a intervir conscientemente no seu próprio futuro.
Um filósofo cavou fundo nesse poço: Para Espinoza (1632 a 1677), o ser humano age por puro determinismo, ou seja, pela necessidade de fazer alguma coisa. Liberdade para ele seria apenas a capacidade de saber por que agimos desse ou daquele modo. Caberia a cada um de nós compreendermos os motivos para fazermos alguma coisa. Todas as ações do Homem seriam determinadas por suas paixões, às quais o homem estaria submetido (passivo = passional).
Um bêbado pode acreditar em determinado momento que é correto falar algo. Quando sóbrio, no entanto, ele pode se arrepender. Ou seja, quando submetido a uma paixão, ou situação de passividade, por estar embriagado, acredita-se que falar algo é correto. Não submetido ao álcool, ele se controla e não fala o que deveria ter calado.
Ainda segundo Espinoza, as palavras loucas, inclusive a poesia, ditas por alguns homens, a incitação ao ódio, as mulheres que falam demais, as palavras e brincadeiras das crianças, não indicam liberdade para agir desse modo. Indicam, sim que que tais pessoas não estão no controle de si mesmas, sendo DETERMINADAS por suas paixões. Não se trata de liberdade, mas sim desconhecimento dos motivos que os levam a seguir um impulso.  
Alguém embriagado também acredita que é pela livre decisão de sua mente que fala aquilo sobre o qual, mais tarde, já sóbrio, preferiria ter calado. Ele acredita que assim se expressa por uma livre decisão da mente, quando, na verdade, não é são capaz de conter o impulso que o leva a falar. Assim, a própria experiência ensina, não menos claramente que a razão, que os homens se julgam livres apenas porque são conscientes de suas ações, mas desconhecem as causas pelas quais são determinados.
No Livro Lorde Jim, de JosephConrad (Autor de Coração das Trevas que deu origem ao Filme Apocalipse Now), a questão da inexistência do livre arbítrio fica bem clara. Em um acidente de navio, o Contramestre do Barco, personagem que dá nome ao livro, tem que decidir se pula para salvar a própria vida ou insiste em ficar e tentar, inutilmente, salvar as vidas dos passageiros.
Fica claro tanto no livro quanto no filme (sim, esse também virou filme, com o mesmo nome e época do livro) que a presença de Lorde Jim no barco não faria diferença alguma. Entretanto, ele é julgado por ter se atirado ao mar e, supostamente, abandonado seus passageiros e suas obrigações. O que fica patente é a incapacidade do personagem em agir livremente, tanto no momento do acidente quanto no momento de seu julgamento.
Essa passividade de Lorde Jim se encaixa perfeitamente na impotência percebida por Espinoza. Fosse o Ser Humano um agente ativo de sua vida em todos os momentos e tais conflitos seriam devidamente resolvidos. As tragédias seriam evitadas, os impulsos controlados e o mundo perfeito.
Mas a quem interessa falar em livre arbítrio? A sacerdotes de vários credos, principalmente os que citam a bíblia. Desse modo, pode-se culpar o ser humano quando alguma coisa der errado. E a divindade, tão divina, que deveria controlar e proteger tudo, está eximida de qualquer “descuido” ou falta de atenção com seus súditos.

Garantido fica o ganha-pão de quem vive de explorar as divindades, loteando-as e vendendo-as aos menos informados.  

2 comentários:

  1. Infelizmente as pessoas estão usando as religiões e os dogmas de acordo com sua própria vontade, enxergam apenas a parte que lhes convém e não assumem seus erros "é tudo culpa do diabo".Tenso. Além de comercializar os milagres de Deus pregando um Deus que dá carros, casas e bens materiais. No mínimo triste.

    Parabéns pelo texto!

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