quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Oração e reflexão

        Que o hábito de rezar ou orar, ou falar com Deus é bom, nenhum religioso discute. Interessante é constatar que até mesmo pessoas que não suportam um sacerdote ou uma religião institucionalizada costumam ter a opinião semelhante. Trata-se daquele momento de paz em que se conversa com o Criador ou com um bom procurador dele, a exemplo de um Santo ou mesmo Jesus, Buda ou o que for.
          De um ponto de vista agnóstico ou puramente ateu, a oração pode ser entendida como uma forma de auto-programação, de tentar incutir no próprio ser uma mensagem de força e de coragem. Pode ser uma forma de se preparar para uma situação específica ou para “ser” no mundo.  Há outras “versões” como a da autohipnose ou programação neurolinguistica para explicar, aproximadamente, o mesmo mecanismo .
        Por falar em Buda é bom diferenciar a oração da meditação. No livro Comer, Rezar e Amar está escrito que orar é falar com Deus e que meditar é ouvi-lo. Em qualquer dos casos a interação está sendo feita, desde que o ato não seja automático.
          Mas o que é um ato automático? Em geral, são aquelas repetições sonolentas, cujas palavras não são pensadas e para as quais não se está fazendo um momento de reflexão.
         Todavia, há repetições que bem interpretadas podem render bons momentos de tranquilidade e paz e ainda propiciar melhores sensações e comportamentos posteriores. 
        Um bom exemplo é no Pai Nosso, que podemos interpretar mais ou menos assim:
        1 – “Pai Nosso que estais no Céu.” – A Tua Presença e Tua Importância é reconhecida como influência de algum lugar mais alto ou de regras ainda desconhecidas para homem. Ou, reconhece-se a existência de algo maior que está acima e com o qual é necessário se harmonizar ou acreditar que se está harmonizando para ter uma presença melhor no mundo;
        2 – “Santificado seja o Vosso Nome”. – Santos são pessoas que praticam aquilo que conhecem como a Lei de Deus e que se destacaram pelos seus feitos. Se o nome de Deus é santificado, dá-se à palavra Deus mais significado, trazendo para o meio em que se habita. Nietzsche disse que somente a arte pode dar sentido à vida. Arte é realização. E realização é o que os santos mais fizeram. Santificar-se ou santificar alguma coisa pode ser interpretado como visualizar aquilo de uma maneira especial, buscando fazer o melhor para a própria vida e para a dos outros.
        3 – “Venha a Nós o Vosso Reino”. – Que se possa acreditar que o fazemos participar dessa grandeza que é a Vida com a Presença de algo de especial que rege tudo.
        4 – “Seja Feita a Vossa Vontade”. – Faça-se o que a Natureza, a Vida que foi presenteada ao ser humano, como criação sua, é importante se render a que determinadas coisas estão fora do nosso alcance e só podem ser explicadas por leis maiores. E isso serve tanto para coisas boas como para as ruins. Simplesmente por estar vivo e compromissado com a existência é que ao que é ruim não cabe se render. O que resta ao ser humano é lutar o mais fortemente possível para diminuir seus efeitos e até transformá-las em oportunidades;
        5 – “Assim na Terra como no Céu”. – A vontade de Deus está em todo lugar. Por mais que o homem se eleve, não adianta pensar que um dia vai poder superar a Deus, à Natureza e até mesmo ao Caos, para os mais céticos. Trata-se do reconhecimento de que as leis que o homem não domina estão por todos os lados. O que hoje se chama de caos, de sagrado, de milagre amanhã pode vir a ser explicado e conhecido por todos. 
        6 – “O Pão Nosso de cada dia nos dai hoje”. – Sustentação: Não adianta ter ideais elevados sem os pés no chão. Deus não daria ao home carne e osso para que tentasse viver só de espírito. Claro que é uma tarefa interessante tentar ser carne e osso, matéria e tentar ver que existe alguma coisa além disso. Aliás, não vê quem não quer;
        7 – “Perdoai os nossos pecados assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido”.  O perdão que a ser conseguido só será obtido à medida em que se puder perdoar os outros. Como disse Cervantes no Dom Quixote: “Se tiveres que dobrar vara da justiça, que seja para a Misericórdia”. De certa forma é o reconhecimento de que se deve oferecer aquilo que se quer receber;
        8 – “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. – É ali, todos os dias, não é só de um assalto que se deve ter medo, não. Deve-se ter medo da preguiça, da falta de foco, das distrações, dos amigos inúteis e tantas outras coisinhas pequenas que podem fazer com que nossos objetivos não sejam atingidos. Veja bem que amigos inúteis, por exemplo, não são, necessariamente, pessoas ruins. Apenas não acrescentam nada e podem e devem ser preservados apenas para momentos de diversão;
        9 – “Amém!”. Que assim seja. Repete-se o pedido todo e confirma-se a vontade de agir corretamente. Confirmo também a absorção da mensagem e a força do momento de reflexão.
Várias podem ser as interpretações de uma oração, ou de qualquer texto. Mesmo que feitas pela mesma pessoa, elas vão variar de acordo com o momento em que se está vivendo. Também pode pesar a carga de sentimentos e condicionamentos do local onde nasceu e do ambiente, como aliás ocorre em quase tudo em que paramos prá pensar, na vida.
             O importante é voltar a essas orações, ou criar as nossas próprias sabendo o que se está pedindo e refletindo no que está sendo dito.

http://leoacristica.wordpress.com/2011/05/19/os-chakras-e-o-pai-nosso/