O conceito de livre arbítrio ou a capacidade de auto determinação do indivíduo não passa de uma
falácia, ou seja, de uma mentira bem administrada que presta grande serviço às
igrejas, em geral. A própria bíblia não fala em momento algum da absoluta
liberdade de ação do ser humano. Fala sim da culpa em ter comido o fruto
proibido. Alguns autores se aproveitam dessas passagens que citam arroubos,
impulsividade ou ignorância de alguns personagens bíblicos para dizer que
cometeram tais erros por vontade própria.

Seguindo a mesma linha
de raciocínio de várias outros questionamentos, a bíblia é usada como uma
balança que pode ser controlada e usada para provar o sim e o não a qualquer
questionamento.
Ora, a história prova o
tempo todo que não é assim. Caso fosse, as grandes tragédias, atentados,
acidentes ambientais (tão na moda!) e outras situações poderiam ser totalmente
previstas e evitadas. Mas o que se vê é que nenhum ser humano é capaz de se prevenir,
de agir de modo livre, espontâneo e seguro de modo a intervir conscientemente
no seu próprio futuro.
Um filósofo cavou fundo
nesse poço: Para Espinoza (1632 a 1677), o ser humano age por puro determinismo,
ou seja, pela necessidade de fazer alguma coisa. Liberdade para ele seria
apenas a capacidade de saber por que agimos desse ou daquele modo. Caberia a
cada um de nós compreendermos os motivos para fazermos alguma coisa. Todas as
ações do Homem seriam determinadas por suas paixões, às quais o homem estaria
submetido (passivo = passional).

Ainda segundo Espinoza,
as palavras loucas, inclusive a poesia, ditas por alguns homens, a incitação ao
ódio, as mulheres que falam demais, as palavras e brincadeiras das crianças,
não indicam liberdade para agir desse modo. Indicam, sim que que tais pessoas
não estão no controle de si mesmas, sendo DETERMINADAS por suas paixões. Não se
trata de liberdade, mas sim desconhecimento dos motivos que os levam a seguir
um impulso.
Alguém embriagado também
acredita que é pela livre decisão de sua mente que fala aquilo sobre o qual,
mais tarde, já sóbrio, preferiria ter calado. Ele acredita que assim se
expressa por uma livre decisão da mente, quando, na verdade, não é são capaz de
conter o impulso que o leva a falar. Assim, a própria experiência ensina, não
menos claramente que a razão, que os homens se julgam livres apenas porque são
conscientes de suas ações, mas desconhecem as causas pelas quais são
determinados.

Fica claro tanto no
livro quanto no filme (sim, esse também virou filme, com o mesmo nome e época
do livro) que a presença de Lorde Jim no barco não faria diferença alguma. Entretanto, ele é
julgado por ter se atirado ao mar e, supostamente, abandonado seus passageiros
e suas obrigações. O que fica patente é a incapacidade do personagem em agir
livremente, tanto no momento do acidente quanto no momento de seu julgamento.
Essa passividade de Lorde Jim se encaixa perfeitamente na
impotência percebida por Espinoza. Fosse o Ser Humano um agente ativo de sua
vida em todos os momentos e tais conflitos seriam devidamente resolvidos. As tragédias
seriam evitadas, os impulsos controlados e o mundo perfeito.
Mas a quem interessa falar em livre arbítrio? A sacerdotes
de vários credos, principalmente os que citam a bíblia. Desse modo, pode-se
culpar o ser humano quando alguma coisa der errado. E a divindade, tão divina,
que deveria controlar e proteger tudo, está eximida de qualquer “descuido” ou
falta de atenção com seus súditos.
Garantido fica o ganha-pão de quem vive de explorar as
divindades, loteando-as e vendendo-as aos menos informados.