Por anos e anos o ser
humano tem sofrido as agruras de viver nessa terra.
O clima nunca foi o
mais agradável. Secas enormes, inundações, calor ou muito frio.
Esse tem sido o
cotidiano da raça humana sobre a terra.
Quando o clima
combinado com o relevo não atrapalham, o homem se incumbe de
prejudicar a si mesmo: Guerras constantes, genocídio, fome provocada
pelo autoritarismo, perseguição política e religiosa, ou
simplesmente desprezo.
Esse desprezo acontece, por
exemplo, quando os políticos que, muito preocupados em legislar para
eles mesmos e roubar o máximo possível, fecham os olhos às
necessidades dos mais carentes entre a população.
Ainda assim o ser
humano tem se dado bem. Seja na neve ou no deserto, ainda há
crianças nascendo e crescendo. A superação tem sido enorme ao
longo dos milênios. Populações se desenvolveram sob as mais
severas condições em quase todos os cantos da terra.
Apesar das guerras e
dos genocídios e da peste a raça humana tem se superado e obtido
progresso. Decididamente, esse progresso não atingiu a alma comum, o
inconsciente coletivo. Pois os mesmos erros vão sendo cometidos o
tempo todo. Mas pelo menos, do ponto de vista material, das
invenções, da capacidade de ir mais longe em menos tempo, e de
matar, é claro, é inegável que houve um franco desenvolvimento.
Mas o mais estranho
nisso tudo é o fato de ainda quererem mais. Apesar de toda essa
graça recebida da terra, do sol que os ilumina, do pó que os criou
e os mantém, ainda acham necessário buscar as explicações em
crenças não comprovadas.
Os rituais são os mais
variados possíveis. E os povos mais fortes e desenvolvidos
economicamente acabam por impor os seus rituais a quem não tiver o
mesmo poder. Foi assim com os maias, os astecas e todos que se
atreveram a ficar no caminhos dos bondosos cristãos. Em apenas uma
matança todo um povo da Nova Zelândia foi dizimado pela força
“redentora” do poder cristão.
Interessante é que o
poder do ritual se volta contra a própria carne do povo que o
pratica. A necessidade de exercício do poder justifica verdadeiras
guerras civis em que pessoas desarmadas são mortas por não
aceitarem as práticas impostas. Este foi o caso das inquisições.
Provas, provas e mais
provas são dadas de que o que prevalece é o caos, apesar de toda a
beleza e grandiosidade do mundo. E ainda há a necessidade de
personificar a divindade numa figura sobre humana, mas ainda assim,
humana e carregada dos mesmos sentimentos vingativos e impositores
dos que a criaram. E piora. Ainda se afirma que a divindade que é o
próprio poder e a criação fez o minúsculo homem à sua imagem e
semelhança.
Ora! Mal e mal o ser
humano tem conseguido manter o seu planetinha, sua navezinha
funcionando. Como é possível se pensar que tenha sido feito à
imagem e semelhança daquele que o criou. Certamente, até para
respeitar as próprias palavras, o homem teria que respeitar mais a
criação de seu Deus e com o qual ele tanto se identifica.
Essa é apenas mais uma
prova da necessidade da maquinação, do tipo de invenção que é
necessária ao homem para se colocar no mundo. O preço pago por esse
conforto dado pela engendração, pelo enredamento no contexto da
religião é que se fecham os olhos a novas possibilidades e novas
dúvidas.
Humilde que fosse a
espécie humana e talvez fosse capaz de se contentar com a contemplação
de toda essa grandiosidade e essa beleza a que se pode chamar de
divindade. Para isso não seria necessário abrir mão da curiosidade
e da vontade de saber sobre si mesmo. De uma maneira até científica,
no sentido mais puro da palavra, seria o caso de se aceitar com
tranquilidade aquilo que já se sabe, questionar e acreditar na
dúvida como um caminho para chegar a verdades indiscutíveis.
Quanto mais se deixam os sentidos abertos ao esclarecimento pelo reconhecimento da dúvida, menos coisas passam despercebidos aos que querem valorizar sua existência com o verdadeiro aprendizado.